Papel do “acting out” na transferência e no setting

Olá, sou João Barros, psicanalista e escritor. Hoje vamos explorar um tema fascinante: o papel do “acting out” na transferência e no setting durante a terapia psicanalítica. O “acting out” é uma expressão que descreve quando alguém age de forma impulsiva ou incontrolável, muitas vezes como resultado de emoções reprimidas ou conflitos internos. Isso pode acontecer em qualquer contexto, desde relacionamentos pessoais até situações profissionais.

O que é “acting out”?

Para entender melhor o papel do “acting out”, precisamos primeiro definir o que ele significa no contexto psicanalítico. O “acting out” ocorre quando um indivíduo externaliza seus sentimentos, desejos ou conflitos através de ações, em vez de discuti-los abertamente ou refletir sobre eles internamente. Isso pode ser uma forma de comunicação não verbal, onde as ações falam mais alto do que as palavras.

Um exemplo simples é quando alguém está irritado com um amigo, mas em vez de discutir o problema, decide ignorar essa pessoa ou fazer algo para “se vingar”. Nesse caso, a ação (ignorando ou se vingando) é uma forma de “acting out” do sentimento de raiva.

Papel na Transferência

A transferência é um conceito fundamental na psicanálise que se refere à tendência do paciente de redirects seus sentimentos, desejos ou conflitos em relação a figuras importantes de seu passado para o terapeuta. O “acting out” pode desempenhar um papel significativo nesse processo.

Quando um paciente age de forma impulsiva dentro da sessão de terapia ou fora dela, como uma reação à dinâmica terapêutica, isso pode ser visto como uma manifestação do “acting out”. Por exemplo, se um paciente começa a chegar atrasado às sessões após discutir um tema difícil, esse comportamento pode ser uma forma de “acting out” da resistência ao processo terapêutico ou dos sentimentos em relação ao terapeuta.

Implicações no Setting Terapêutico

O setting terapêutico se refere ao ambiente e às regras estabelecidas na terapia, incluindo a frequência das sessões, o local, a postura do terapeuta, etc. O “acting out” pode afetar significativamente esse setting, desafiando as fronteiras e os limites estabelecidos.

Por exemplo, um paciente que insiste em ligar para o terapeuta fora do horário de sessão ou que tenta encontrar meios de contatar o terapeuta pessoalmente pode estar “acting out” sentimentos de dependência ou necessidade de atenção. O terapeuta precisa manejar essas situações com cuidado, reforçando os limites enquanto mantém a empatia e o espaço para que o paciente explore esses sentimentos.

Manejo Terapêutico do “Acting Out”

O manejo terapêutico do “acting out” envolve reconhecer esses comportamentos como uma forma de comunicação e um indicador de processos emocionais subjacentes. O terapeuta deve criar um ambiente seguro e não julgador, onde o paciente se sinta confortável em explorar os motivos por trás de seus comportamentos.

Isso pode incluir a interpretação dos atos do paciente como uma expressão simbólica de conflitos ou desejos reprimidos. O terapeuta também deve estar atento às suas próprias reações (contratransferência) para não se deixar levar por respostas impulsivas e, em vez disso, usar essas percepções para aprofundar a compreensão do paciente.

Além disso, é crucial que o terapeuta esteja preparado para estabelecer limites claros e consistentes, sem ser punitivo ou rejeitador. Isso ajuda a criar um senso de segurança e estrutura para o paciente, permitindo que ele explore suas emoções de forma mais saudável.

Em resumo, o “acting out” é uma ferramenta poderosa na terapia psicanalítica, oferecendo uma janela para os processos emocionais inconscientes do paciente. Ao entender e trabalhar com esses comportamentos, tanto no contexto da transferência quanto do setting terapêutico, o terapeuta pode ajudar o paciente a ganhar insights valiosos sobre si mesmo e a desenvolver mecanismos de coping mais eficazes.

Espero que essa exploração do “acting out” tenha sido iluminadora. Lembre-se, a psicanálise é uma jornada pessoal de descoberta, e entender esses conceitos pode nos ajudar a navegar melhor por nossas próprias emoções e relacionamentos.

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